segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

sem sentido


O chão colorido
Minha pele encharcada de suor
âmbar
E o sangue quente adocicado com caipirinha de limão
peruca desfiada roxa reforçando meu ultimamente
personagem destemida de mim mesma
meia calça rasgada no vestido curto com lantejoulas pretas
A vida é doce de multidão confeitada sob o sol de verão
Meio dia(milagre) já bem acordada
A estátua no meio da praça-ponto de encontro de ninguém
Exercício para olhar além
estou aqui “primeiro de março com sete de setembro”
O tamborim avisou
A caixa estourada
instrumentos de sopro desafinados

Cadê teu ar trazendo música e vento?
nesse instante meu som ficou entorpecido
mesmo com meu constante repique e agogô
a língua afiada,brincalhona dá logo um jeito nesse pit stop mental
dessa vez não estou inventando fora de época( ufa)
é mesmo carnaval.






segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

pra não passar em branco


Intenção vem de intenso?
Intensa ação?
Querer muito?
Querer profundo?
Diante de toda essa luta contra o tempo, quero confiar.
Ser minha guia, ser auto-estrada, ser decisão diante de qualquer bifurcação.Preciso de todos movimentos em conexão.
Estou confusa. Se a palavra de ordem é ação,hoje não encontro meu verbo forte, não sei mais em que tempo conjugar o querer.Cadê a nitidez de ontem, chega desse pique-esconde dos meus reais desejos. Já contei até cem!!!Minha meta é urgente.Vamos brincar de outra coisa? Stop.Não!
Vou escrever um novo parágrafo onde não entrará artigo indefinido.
e tomar xarope de discernimento
Igual da Mary Poppins - com magia
com livre arbítrio pra inventar sabor
ou se é verde , vermelho , incolor
música de fundo eu também gosto( aí não deve ser da Julie Andrews)
crio todo o clima
me olho no espelho
e?
O que quero é mesmo intenso?
É desejo profundo?
Vem do meu centro?
Cadê minha bússola pessoal?

enquanto não encontro me divirto nos ventos que me levam

leve leve leve..............

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Ultimamente meu tema não tem variado
Eu continuo andando rápido
Eu escrevo à lápis mas não uso borracha
Eu gosto da luz do dia se despedindo
Eu como antes de deitar
Eu durmo na hora de levantar

Eu acordo pra trabalhar
Eu penso onde tudo que tem sido vai dar
Eu não tenho mais dor que inspirava (não quero de volta, obrigada)
Eu mudo o percurso pela cisma de transformar
Eu começo a ouvir o que vem do meu interior
Eu transformo salada de alface em batata quente e recheada
Eu aprecio música arranhada
Eu estou mais declarada
Eu preciso de conto de fadas,de céu na terra (firme)
Eu vejo a vida de Lua cheia
Eu levo a ansiedade como uma constante
Eu dispenso a equação torturante
Eu persisto nas mesmas palavras pelo prazer do re-significar
Eu amplio meu olhar
Eu paro diante de alguns horizontes
Eu procuro uma fonte de inspiração
Eu torturo as minhas escolhas nas madrugadas não avisadas
Eu danço a música do meu coração
Eu anseio hoje pela variação do meu ultimamente
mas sigo ainda meu tema com convicção



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ângela da tarde



A tarde caía fria, depois de dois dias de intenso verão. Ângela acordara estranha, com certa sofreguidão, incomum, no estômago. Sentia que dentro dela era um bater de asas trepidantes. Aproximou-se da janela, num misto de ação instintiva com expectativa. Podia surpreender-se com algo novo na vista de seu quarto, com alguma mudança, mesmo que sutil, naquela vista tão constante. Vento de fim de tarde, as folhas das árvores balançando e os milhares de tons de verde, tão diversos que resultavam mais do que a soma de todas as outras cores que se tem conhecimento.
Ela está ali.Fica por um instante imóvel,estática. Instante esse que parece durar mais do que o sono que tinha dormido na noite anterior. Caminha até a sala. Vai em direção a geladeira,na cozinha apertada quase dentro da sala, de onde ela ainda vê a janela. Abre a porta daquele refrigerador vermelho gelado. Come queijo, desejando saciar a vontade de comer o resto de pavê que tinha no congelador. Senta-se no sofá. Disfarça a gula não preenchida e procura não ficar muito confortável pra não adormecer. Um frio estranho na espinha. Quer fazer algo. Quer tanto fazer. E o tempo ali parado. Inquieta-se. Rapidamente passa a consultar sua agenda mental, pensando em quem poderia ligar e combinar um programa de começo de noite.Tinha suas preferências, é claro. Preferiu não ceder à escolha ou ao pretenso desejo que despontava. Opta em esperar. Uma ligação quem sabe? Não tinha força pra ser mais do que já estava ali sendo. Ângela vê-se ali, novamente, vivendo um instante similar as 24hs mal dormidas. Já cogitou sim ir caminhar em direção ao arpoador com um cachecol e se deitar nas pedras sentindo a brisa, fria. Vetou a vontade. Perda de tempo. Hora de fazer algo útil. Produtivo. E o que poderia fazer? Não se lembra mais. Espera o tempo andar. E o presente ficando mofado. Quer que seja rápido. Agora deseja, e deseja ardentemente, o fim do dia para acordar novamente em outro. Quer o escuro. Vida em sonho, corpo desarmado. Quem sabe surgiria alguma coisa amanhã? É bastante possível até abrir a geladeira e alguém ter comido o pavê, o qual ela relutava em ceder.
O telefone poderia tocar , ela podia cantarolar uma música qualquer, ter vontade de varrer a casa como quem faz faxina na própria vida , pra se auto-convencer. Ou não, ou o telefone simplesmente tocaria mas Ângela já estaria de saída para beber um coco gelado no calçadão.
Esperou.
Amanheceu.
Amanheceu hoje.
Amanheceu ontem.
Amanhece todo dia.
E tantos outros novos dias.
Ela aproveitava pra olhar a vista do quarto e por um segundo sentia que poderia ser feliz se houvesse mudanças.
Debruçou-se na janela. As árvores multi-esverdeadas não tinham mais folhas. A tarde já não era mais fria.Também,vento, não tinha mais. O telefone começava agora com outro número.
Ângela está ali na janela. Não cedeu ao pavê frio no congelador. Ângela permanece. Ela é a mesma? Um segundo que não passou (será que o tempo realmente passa?). Instantes em fuga no viaduto próximo daquela casa. Tudo isso é vida condensada? Sonho ou realidade. Os olhos piscam, escuro e claro, ciclo vida-morte-vida alimentando toda a humanidade. Ângela está ali, parada.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

o outro


Não costumo colocar textos não autorais aqui, mas esse do Ericson Pires, reflete completamente o momento atual de todos nós, dos processos de criação corridos e lindos que experimento durante esses meses, dos momentos mais particulares que tenho vivido, das relações humanas que todo dia me pergunto "para onde estão indo?". Eu de verdade, amo o outro, e acho que "No encontro realizo o outro. E realizo a mim mesmo como (o) outro." é uma definição e tanto. Não quero jamais ter medo de SER humano, com tudo que essa palavra já diz. O foco é na transformação, no contato, na revolução, sejamos a mudança que queremos ver fora de nós, para que ela de fato aconteça também do lado de fora. Meu mantra é vida vida vida ATIVA. vida em circulação. prazer pelo encontro, sem medo, sem rodeios. ser por inteiro. quero enxergar de fato tudo que não está em exposição direta. quero o contato com o mais humano meu e de cada um. eu amo mesmo isso.

agora o texto:

Trata-se de uma aventura . o objetivo desta aventura é ela mesma. Percorrer. Experenciar. Basicamente a disposição para o encontro : o encontro com o outro, o encontro no outro , o encontro como território que se modifica a cada acesso. No encontro realizo o outro. E realizo a mim mesmo como (o) outro. Ao mesmo tempo, cada um de nós se torna fragmento desses encontros com o mundo. O encontro realiza a tradução efetiva de um evento de criação. A imensa teia tecida pelas singularidades preenche o vazio da indiferença produzida pela reprodução ad infinitum do mesmo. Esta teia é arte de criar encontros, ou seja, de produzir pensamento como experimentação do outro, como busca do outro, da realização do outro que eu-também-sou. Produzir pensamento é necessariamente uma aventura.
Parodiando o poeta chileno Vicente Huidobro: escrever um texto é criar um balançar de mar entre duas estrelas. Esse balançar de mar é a maneira pela qual a realização do texto escapa da possibilidade de ver/ser visto como um acontecimento encerrado , algo definitivo, é o elemento movente, marítimo ativo nesta composição textual. Escapar da determinação é estar diante das milhares de possibilidades que os encontros – enquanto criação-proporcionam .

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