terça-feira, 27 de abril de 2010

Homero

Meu querido,
Até hoje não quis utilizar as palavras com você. 
Não achava adequado abusar da construção de frases e todas suas vírgulas, para falar do que realmente importa. 
O que realmente importa não precisa ser dito, não precisa do esforço das palavras.Com você também não quero precisar de pontuação.Falsa justificativa, talvez. Falar no que realmente importa seria apressar a apresentação da realidade. 
Por enquanto ainda há dúvida. Onde está a fronteira da vida e da realidade, nem toda vida é baseada na realidade crua dos fatos e das palavras. Te dizer tudo seria um estupro, um roubo, ou algo muito digno de ira e castigo. Seria aprisionar a possibilidade , essa possibilidade ainda neném, que engatinha , olhando tudo pela primeira vez e deixá-la definhar numa cela escura, fria e sem janelas. Quem disse que isso é o que realmente importa? Ainda tenho dúvidas se estou em linha reta ou caminhando em dupla para uma bifurcação longínqua , com a falsa esperança - ou não , não sei responder - de que  ela chegará. Chegará? Será que estamos construindo essa possibilidade de ramificação, só para, lá na frente, encontrar mais uma opção de dúvida. Eu não tenho a resposta. E no fundo também não procuro tê-la, porque tê-la também seria apressar a apresentação da realidade. Eu ainda não quero vivê-la, confesso. Falar no que realmente importa pela primeira vez me soa como uma gafe. Eu,imagina só, que sempre sou tão visceral, e defendo  o jorro do pensamento expresso com urgência. Acho, que tudo pode ser porque não estou bem orientada sobre qual é a direção da realidade e onde ela se escancara - no que vivemos ou no que ficará exposto se tocarmos no assunto emudecido. 
Sempre encontrei nas palavras um alívio. 
Agora, desvio delas para nos tornar possível.


um beijo
e uma lembrança a sua escolha

ela.

ps: desconsidere as palavras fortes e as vírgulas fora do lugar, 
prefiro assim - tudo fora do lugar- do lugar comum.


quinta-feira, 8 de abril de 2010

nós





















aquilo que não tinha nome

não tinha referência 

não tinha antecedente 

aquilo que não tinha nem por que

aquilo que 

não era pergunta 

não era resposta 

não era virgula 

não era desejo real 

aquilo que não era para ser 


aquilo que precisava ser silenciado para entender

aquilo que não trazia risco 

aquilo que tinha que morrer

aquilo que



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