segunda-feira, 20 de julho de 2009

presentes na mala para uma saudade inventada -



Uma carta para ser lida em janeiro de 2012 num café na rua em qualquer lugar do mundo que ele ache que tenha a minha cara.

Um vinho tinto para ser tomado no dia do nascimento de algo muito desejado que eu nunca soube ou não tenha tido tempo de desejar junto.

Um cd para ouvir sozinho na terceira noite de inverno que ele se sinta longe de onde queria estar. (se souber onde – se não, é recomendável esperar a próxima estação)

Um livro dos prazeres grifado e com um segredo na página seguinte do meu trecho preferido.

Um baralho da minha infância na grama faltando todas as cartas de copas exeto a dama.

Uma foto picotadacom alfabeto no verso, guardada numa caixinha de fósforos, pra montar no mural num dia de frio em que ele tenha perdido a hora .

Um relógio que só tenha o ponteiro de segundos, levemente entortado , que ande pra esquerda e que só poderá ser encontrado após ler o segredo. (do livro?)



Uma camiseta qualquer que soe como um presente de despedida qualquer – mas que carregasse o desejo futil e inútil que eu tive de ver ele vestido como eu gosto.


Um vestido bordado com 365 etiquetas no forro com frases ou imagens do meu cotidiano - para serem apreciadas todos os dias as 13:31 – horário que abro os olhos de verdade.

Uma verdade costurada no travesseiro que só se revelará mentira quando a carta for lida em 2012.
........
registros de uma madrugada chuvosa
ele pensa :
- talvez eu seja teu.
ela diz (olhando para a bicicleta quebrada):
- eu destruo tudo o que tenho...
...

se deu conta da finitude do tempo e pergunta para o homem que estava ao lado
- porque com você horas são?














terça-feira, 14 de julho de 2009

no dia certo de ir embora
durante aquele período pós sono
mais que meio dia
que ela chamava de minha manhã
ela preparou um café forte
adoçou com dois cubos de chocolate belga
e colocou na xícara única
de rosas vermelhas
tomou aquele café doce
de uma vez
como se engolisse seu desespero quente pra acordar
a palavra ir trazia suores
tremores inesperados
contato com o que não tem nome
e um objeto qualquer ao alcance
quebrado
ir te leva daqui?
ela pergunta
com vergonha de acordar
lambendo os dedos de chocolate
aquele
que ficou grudado
na xícara
única
de rosas vermelhas

quarta-feira, 8 de julho de 2009




E agora o cansaço,
o jantar quase à mesa
a estranheza de lembrar a palavra tempo
e das noites de névoa quando ela não trazia significado
minhas imagens rasuradas
a lua cheia nascendo do outro lado da janela
projetos descritivos do que pretendeu ser
cheiro de batata com alecrim vindo da cozinha
a casa quentinha

uma segunda-feira por acaso
os esqueletos de dois amantes que não se encontraram
fósseis de sentimentos a curto prazo

cheiro de âmbar, cama branca
banho tomado e longe da hora que é de dormir
um pouco conjugada fora do tempo
e se fosse o que não é?
um presente abandonado
sobra sim
um escaninho apertado da minha memória
uma pequena festinha mórbida
pra você
que de vez em quando deixo
protagonizar a minha lembrança





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