sábado, 28 de agosto de 2010

palavras que não são



Qual o nome do vácuo entre o pretendido e o que não? Aquilo que nunca acontece e que nos mantêm vivos – qual o nome disso?
Qual o nome do frio na barriga do dia que vem vindo , da euforia sem nenhum motivo? Qual o nome da expectativa disfarçada, do que você achou que era intuição e não foi nada, do prenúncio de uma boa nova, qual o nome desses sentimentos sem motivo?
Qual o nome do medo non sense vespertino?
Qual o nome  do não saber se o que é vem com o que se sente? Qual o nome da falta de discernimento de alguém bem intencionado?
Qual o nome da vontade súbita de amanhecer na praia com um amor antigo e esquecido, mesmo nunca mais querendo isso?
Então, qual o nome de tudo isso?
Qual o nome do que a saudade não dá conta? E quando a gente sente saudade de alguém do nosso lado, qual o nome disso? 
Qual é o nome do eu te amo emudecido? Qual o nome da vontade a mais que não é feroz e bruta como a insaciabilidade? Qual o nome disso que nos mantêm nessa cidade ? 
Qual o nome disso que faz a gente levantar todos os dias , atrasar o despertador, escovar os dentes , se olhar no espelho e achar que deve manter-se acordado. Qual o nome do tudo que a gente pensa quando abre a geladeira?
E o que tem mais peso , a dor ou o sorriso? Lágrima ou suspiro, culpa ou chocolate? Por que na balança choro tem mais gramas do que uma lembrança? Qual o nome desse não sentido?
Qual o nome da espera aflita no sinal e a surpresa de olhar para o lado e encontrar alguém muito interessante?
Qual o nome dessa coisa preenchida por tardes em que a gente larga tudo, olha o céu, a nuvem branca e basta- a vida também é isso - ?
Qual o nome da sensação de achar que finalmente encontrou?
Qual o nome da vontade enorme de depois da paixão preferir ser muito amigo?
Qual o nome desse súbito instante, olhar mais uma vez e agora , de um dia para o outro , se sentir atraído?
Qual o nome da mania de deixar pela  metade um monte de livros que querem ainda serem lidos?
Qual o nome dessa certeza que amanhã não será nosso último dia? Qual o nome das convicções disfarçadas? Qual o nome do entre a vontade e o não ceder?
Qual o nome do lugar onde foi parar aquilo que não te faz mais sofrer?
Qual o nome desse tempo esgarçado?
Qual o nome desse sofrimento diário por uma plenitude que não existe?
Qual o nome do estar bem mesmo diante da incompletude?
Qual o nome do acordar tarde, perder o dia e achar que fez bem? 
Qual o nome do fazer a mesma coisa e achar que assim não pode ser?
 Qual o nome do que nos leva além , e do que fica entre o vai e vem?
Qual o nome desse lugar onde as palavras não dão conta de tudo que é?
Qual o nome do momento em que somos salvos por uma lembrança?
Aquilo que não tem nem nome, precisa ter para ser vivo?
Qual o nome de tudo o que se sente e talvez nunca se tenha dito?
Qual o nome disso aqui?
E isso?

domingo, 22 de agosto de 2010

sobre a chegada de Novna a Dubrovnik


Novna é amiga da Jadranka, mas ainda não sabe.
Ela também ainda não sabe se existe destino mas decisão, isso sim, ela diz que existe. 
É por essa razão, combinada ao excesso de sua existência, que ela acaba de se instalar em Dubrovnik. 
Chegou esta manhã, recebida por um gentil marinheiro que vestia , exepcionalmente naquele instante ,vermelho , vermelho escarlate.
Com suas malas ainda desarrumadas, no quarto alugado de uma turca detalhista, sente-se especialmente bonita  trajando um vestido quase cor de pele,  fiel escudeiro durante toda viagem até aqui.
Novna está com um lenço fúcsia , marcado quase invisivelmente por manchas do vinho tinto que toma todos os dias quando escurece. Seu pescoço também tem manchas, imperceptíveis. É porque toda vez que precisa expressar suas  idéias,  ela o  acaricia num movimento de vai e vem .
A garganta de Novna é sua parte mais quente e talvez a mais erótica,   por isso costuma filmá-la experimentalmente em sépia , explorando quadros angulosos e abstratos. 
Alimenta , secretamente , o desejo de enviar seus filmes para Chantal e também para Spielberg, mas não sabe explicar bem o porque deste último. Talvez seja porque E.T foi o primeiro filme que a levou a experimentar Coca Cola com cigarro - um trago e um gole-  e a amar com agressão. Agressão para Novna é o auge da expressão.
Ontem, depois de um filme assistido pela nona vez,  despediu-se dela mesma as duas e meia da manhã.
As duas e meia da manhã ainda estava deitada na sala da casa antiga, em companhia de suas 983 cartas- as recebidas e as nunca enviadas , 436 sapatos de cor forte e 1239 filmes com cenas de despedida e beijos na chuva. 
Suas coisas ficam devidamente embrulhadas e organizadas em caixas com nomes de momentos. 
Sim, ela dá nome para seus momentos ou apropria-se de nomes de música– como por exemplo – Self portrait in 3 colours , composta por um grupo de jovens franceses de Toulouse.
A primeira coisa que viu, na nova cidade , foram as unhas sujas do marinheiro que a recebeu gentilmente, e logo após afirmou para si , que era  preciso, muito preciso, ficar fechada para balanço .
Fechar-se é algo da natureza das coisas decididas racionalmente? 
Ela não sabe a resposta para sua pergunta e por isso acredita ser mais útil contemplar as ruínas do moinho desativado.
Na bolsa de festa que herdou de sua mãe, ela carrega um papel dobrado em 6, onde está escrito a lápis :
"Nunca fui solitária , nem quando estive sozinha , nem acompanhada, mas eu teria gostado de estar solitária. Solidão significa o seguinte : finalmente estou inteira. Hoje sonhei com um estranho . Era meu homem. Só com ele eu poderia ser solitária, me abrir totalmente e recebê-lo como um ser inteiro."


É um filme do Win Wenders, que ela acha "tão bonito".

Algumas tardes ela dedica a ouvir uma única composição feita por um amor antigo, que ela descreve como inútil. Escuta com fone de ouvido, para senti-lo mais próximo, sem que ele nunca saiba.
Inutilidades, para a moça ainda jovem, trazem grandes apontamentos para a vida.
Novna chama de despedida de si , as pequenas matanças que anda fazendo em seu cotidiano. 
A cada morte diária, junta uma pequena porção de terra ou areia, dentro de uma maleta, que comprou de um ilusionista. 
Um dia, perguntou para esse antigo amor , quais eram suas pequenas mortes cotidianas e ele disse que não as tinha - ele nunca havia  morrido - um dia sequer. Nesse dia ela deixou de amá-lo.
Talvez, seja também por isso que ela tenha chegado esta manhã a Dubrovnik. Talvez, seja também por isso que Jadranka será sua nova amiga.
Novna quer, com força, começar a surpreender-se com a própria existência, mesmo sendo exaustivamente ela mesma. 


desenhos em papel jornal
e carvão by menina sem século.








sábado, 14 de agosto de 2010

desenhando nas manhãs de sábado ou meus desenhos me levam para uma manhã bem acordada



e depois 
confusamente fiquei
pensando naquela parede
e nos meus
objetos
que não estavam
a ausência das coisas 
minhas
ali
a parede branca
a não resposta ao que os olhos procuravam
a sensação que
,


sábado, 7 de agosto de 2010

A busca em ser precisa




Hoje , 7 de agosto , bem precisamente, as 19:12 - não te digo os segundos, até porque na hora que souber, ele já serão muitos depois - eu lhe escrevo para pedir desculpas.
Antes que você fale que minhas desculpas não são necessárias, me precipito em dizer- até porque também não carrego a certeza que é isso que você dirá - que peço desculpas por uma necessidade quase egoísta de me redimir comigo mesma. Talvez, essa primeira necessidade, de auto–redenção seja o primeiro passo para uma real transformação. Sempre pensei nisso, que quando as desculpas são só para constar ao outro a gente não muda de verdade. 
Fico confusa com essa coisa pelo outro, tudo só pelo outro é um desequilibrio, não?. Quando a coisa se torna impossivel, intolerável para nós mesmos,  é quando começo a vislumbrar que é possivel me tornar diferente do que o acostumado.  
Peço-te desculpas pela minha confusão diária, pelas minhas escolhas não claras e não evidentes , por não saber planejar, por não saber antever que terei que dizer
não, por querer dar conta de tudo , de você,  de todas as vontades minhas,suas, deles, me atropelar e atropelar todo mundo. 
Peço-te desculpas pelo celular que sempre coloco em cima da mesa, como uma forma de poder ser encontrada e mudar de opção se me for necessário. 
Peço-me desculpas por tudo isso também e confesso que fico sem me perdoar. Não aceito minhas próprias desculpas por agora, acho mais provocador para me tornar diferente a partir desse aqui.
Eu estou com medo. Essa coisa de toda escolha implicar numa perda. Nem a análise dá conta disso- aliás ainda não sei se ela dá conta de alguma coisa realmente humana. A primeira coisa que me veio a cabeça sobre o que desejo perder foi a incostância - em todos os setores possiveis. E de repente vi que as minhas maiores escolhas carregam invariavelmente a incostância dentro de si. Elas são por si só deliciosas e incostantes. Isso se tornou quase uma premissa ao escolher. Sinto-me uma auto-punidora por um prazer mórbido que eu não sei de onde vem. 
Meu maior desejo carrega meu maior receio. Meu deus, quanto drama eu faço, peço desculpas por isso também.
Tenho pensado muito no futuro.Não sei  se foi  depois que  me separei daquele moço ou se foi quando comecei a olhar mais o mar, que vi o quanto mantinha as coisas pelo prazer , pela distração e por achar que ainda sou jovem o suficiente para dar espaço para as coisas insuficientes . E agora não. Nao quero mais depositar nenhuma energia em algo que seja irrelevante. Não faço mais questão de um monte de coisas que cabiam no meu cotidiano. Não faço mais questao de distração para acobertar a raiz da coisa em si. Aquela coisa, é melhor ficar carente do que viver uma relação onde não se pretende nada, apenas fugir do que se pretende para você. Eu te juro que estou pensando assim. Em qualquer lugar em que você me encontrar agora eu estarei investindo. Pode ser uma situação, alguém, um lugar. Não estou em mais nada por estar. Eu sempre quis dar conta de tudo, de todas as pessoas, programas, lugares, por amar demais, por querer ver todos bem, por querer todos os lugares e por achar que tudo cabe. Mas não, não cabe. Eu sou pequena nesse sentido. Estou aprendendo a perder para saber que isso é uma forma de consolidar algum tipo de decisão. Tem horas que tudo isso vira muito burocrático mas por enquanto é uma forma de garantia de sobrevivência.
Peço desculpas e espero que você compreenda que o meu não carrega meu amor e minha escolha de ser melhor para mim para poder ser também para você.
Eu preciso ser precisa – mesmo não sabendo se precisão é uma coisa que realmente existe.

19:47

aqui, será o lugar que.
A partir de.
Agora.

Com amor,

Jadranka.

7.



descobriu para si
que : 
A escolha de uma direção não pode ser uma forma de controle do próprio caminho.



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