quinta-feira, 26 de maio de 2011

instante despreparado

                                                           
Dubrovnic,manhã com sono de algum dia de gêmeos.

Querida,
Aqui a vida passa breve. Hoje não chove e eu choro. Eu e minhas incoerências com a natureza não é mesmo? Como é difícil largar tudo isso que estamos acostumados a ser em excesso. Eu queria hoje viver alguma coisa extraordinária bem no meio de um segundo despreparado. Qualquer coisa simples,que derrubasse a sensação do medíocre que reside em cada instante com cara de meio dia, em cada trânsito esperado, em cada beijo automatizado, nesse amor mofado de costume,no presunto com queijo, nesse tanto que tanta gente chama de cotidiano e eu chamo de morte. Poderia ser um concerto no meio de uma mata atlântica improvisada num jardim, uma corrida na praia com vento, muito vento e a sensação de que tudo está a caminho, poderia ser você aparecendo de surpresa no meio do jantar(que hoje seria só chocolate), um esbarrão com um marinheiro de outro porto, que me mostrasse um objeto de algum naufrágio antigo e que me re-confirmasse a sensação boa que é ser sobrevivente ou simplesmente tivesse um aroma escondido no bolso, um novo benjoim,que me desviasse a noite para outra direção. Às 16 horas vou engolir o café já quase frio e vou comprar no mercadinho um palmier de coração recheado com chocolate. A minha constante tentativa de engolir tudo que não seja angústia e de lembrar, mais uma vez, que tudo pode ser doce, doce como um palmier de coração.Quero deitar agora na grama, sentir o frio de inverno com estrela e te contar qualquer coisa boba e fútil, como por exemplo meu trajeto até chegar em casa hoje. Falar uma besteira enorme, comer pão quentinho, esperar a madrugada e dividir muitas taças de vinho porque amanhã não tem pressa. Por que todo o amanhã tem tanta pressa? Eu, se fosse possível parava o tempo para viver o vácuo com você, seria isso meu maior ato de cumplicidade? Depois,certamente, eu voltaria mais forte para tudo isso que não me comove e  te deixaria com um presente do oriente e uma flor com raiz. Nunca me esqueci daqueles lírios,laranjas e sem raiz que ganhei daquele moço, lembra? Com certeza sim, afinal você quem descobriu tal façanha da planta.  E eu? Que chamava aquilo de amor - aquela beleza toda sem raiz. Meu deus, quanto tempo demora para a verdade virar vida? Acho que hoje não tenho nada que precise contar mesmo, então enfilerei um monte de palavras para justificar a ausência de notícias e a minha saudade mansa. Sou um boba incurável,quero viver só de amor e suspiro,quero todo dia com lua cheia,fogo e com excesso.Há 16 anos, numa quarta feira,eu me vestia de de tule e purpurina, comia fruta do pé, ouvia o LP do vovô,saía rolando pela grama e achava que vida era isso. Será que é um problema ainda achar que vida é isso?
Estou tentando acordar, juro que estou, mas a cama me chama.O café já está apitando e talvez eu tenha vontade de deixar ele queimar.As notícias do jornal não são nunca boas.Estou atrasada e sempre te amo.

um beijo

sua filha
Jadranka

quinta-feira, 19 de maio de 2011

um tanto de nada daquilo.




É preciso que o tempo voe mas que a vida não passe assim.

O tempo alterna entre botas pesadas de guerra e pés descalços de sílfide.
O tempo é um andarilho, um vagabundo que só faz isso. Ir
Tempo é despedida.
Sempre.


agoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagoraagor


                       e agora sempre não é mais e é de novo. onde o agora existe?

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