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Hoje cuido das sementes que se descobrem férteis em mim.Me abraço para dar aconchego ao crescimento que quero ver aqui de dentro.Faço chuva durante a última madrugada de verão e desejo ouvindo o vento abrindo o tempo, que todos meus bons conselhos aos outros tornem-se nascimento também em mim. Hoje faço do meu agora o melhor terreno pro crescimento que quero viver.--------------------------------------------------------------------

Hoje ela me contou como foi quando a casa em que ela nasceu, morreu.
E eu imaginei o que deve sentir uma pessoa que cresceu vivendo em uma casa só. O que fazer quando é preciso ir embora de vez? Quando o pra sempre ou o nunca mais existe de vez.
Vê-la pela última manhã pintada com tinta, que já um outro escolheu. A sala vazia. A cozinha agora só com azulejos. Penso no tchau, ainda deitada na cama antiga, para a vista do quarto que viu claramente os dias mais escuros, para as paredes gastas, confidentes dos choros abafados, das felicidades tão cuidadas,da bagunça disfarçada,da ordem simulada ,do amor gritado e do emudecido.A república independente que era aquele quarto.
Imagino o que deve ser andar pela rua que decifrava cada linha dos pés descalços, e que agora não é mais caminho de volta. Comprar o pão quentinho da padaria amiga e levar pra outro canto, abraçar o jornaleiro que sempre a viu como criança e ler o segundo caderno sem o sol da varanda, daquela varanda.
"Agora existe uma casa nova . Sem espaço pra você. A vida tratou de encaixotar suas coisas."
Hoje também percebo quantas casas morrem dentro de mim. Estou de mudança, o caminhão carrega somente as caixas que ainda me servem, as outras, inúteis, foram devidamente, destruídas.
Não há mais espaço para o que eu costumava ser.É preciso mesmo
amadurecer sem perder energia, vitalidade , o frescor e a liberdade de ser.
Entro devagar pela nova sala vazia , clara, sol de meio dia. Como é bom enxergar que tudo que não me cabe mais é também esterco pra nascer mais vida.