sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ilíada

Hoje, escapamos com vida de uma conjugação onde já não cabiamos antes mesmo de continuarmos qualquer coisa. Quem sabe isso possa ser uma coisa feliz e até digna de ser comemorada - um champagne talvez?
Nós , a partir das 6 da manhã de hoje, passamos a habitar as possibilidades - que não deixa de ser uma maneira de fazer permanecer o bonito de tudo isso. Possibilidades é uma das minhas palavras preferidas, nunca te falei, mas que me dá a sensação de coexistência (outra palavra que adoro) de todas as estações.
Agora eu estou Outono e com um pouco de receio do Inverno que está para começar. Acho a neve sensorial, lúdica e atraente, mas por hora, não queria que nevasse na minha casa, no meu quarto , nas minhas pérolas e vestidos de flor. Ainda procuro meu lugar e o Inverno tarda o fim dessa tarefa. Queria ainda estar Verão e desfrutar do calor e dos dias longos com a leviandade e a catarse  essencial dos carnavais.
Sabe, acordei pensando que queria ter o poder de te presentear com uma bifurcação, um atalho - acho que seria uma solução. Mas eu não tenho esse poder. Tenho me sentido mais falível do que nunca e sem o senso de onde a coragem ou a covardia realmente se distanciam.
Onde foi que nos encontramos? Você tem essa resposta?
Saudades de quando ser não tinha pressa. Acho que é isso que me levou para tão longe.
Talvez eu pegue o trem para Dubrovnic na semana que vem, tenho procurado atitudes externas condizentes com tudo que se passa aqui dentro. Uma viagem sem data de volta - mas com vontade de ter - para o primeiro Porto da Europa , soa bastante coerente. Lá tem mar e não fica impossível de imaginar que um dia o rio desague por ali.
Sabe, outro dia, deite-me e dei-me ao luxo de fechar os olhos e pensar em alguma cena bem banal de nós dois- quanto mais banal melhor. Era tudo pela curiosidade de sentir o gosto do muito tempo, a temperatura do muito tempo e os desdobramentos do "há muito tempo juntos". Assim  ficamos parecendo antigos e quase até desnecessários um ao outro - ou subitamente essenciais.  A memória inventada tem desses poderes.
Aqui no envelope deixo a foto da última lua para você. Interprete como quiser - está escuro mas tem lua. Também deixo duas chaves. São da casa onde não moro mais.
Nos encontraremos na próxima vez que o verão for comum a nós dois , perto daquele carregador de caixas de 1926, meia hora antes do amanhecer. Lá é um bom lugar . Aquele moço permanecerá parado no mesmo tempo, no mesmo local e na mesma posição.Lá horas não são. Enquanto ele permanecer , será lá o lugar que,

cuide da sua estação

vento na janela do seu quarto
e um beijo

Jadranka

Ps: estou com medo de não estar falando a verdade. Tenho me tornado a combinação de meios racionais com a desenvoltura de quem fala tudo como se viesse do coração.
Isso aqui não é uma resposta. Isto aqui não sou eu?



4 comentários:

lila disse...

ei,moça....
que delícia aqui,tb!
gosto muito!
te visitarei mais vezes,heim?
besitosss
fanju

Aquela disse...

"a temperatura do muito tempo e os desdobramentos do "há muito tempo juntos". Assim ficamos parecendo antigos e quase até desnecessários um ao outro - ou subitamente essenciais. A memória inventada tem desses poderes"

amiga, eu amo esses seus deslocamentos infantis, isso aqui tá lindo demais. você deve estar linda, você voltou carol. esse texto assim tão sem quebras, tão contínuo salvou meu domingo. eu amo essa escrita, assim que chega num fim, que desenvolve, que mata a cobra e mostra o pau. fase boa, eu acho.
obrigada.

Aquela disse...

Tenho me tornado a combinação de meios racionais com a desenvoltura de quem fala tudo como se viesse do coração.


eu quero mais sobre isso. saber mais, sentir mais, saber se é como acontece comigo.

Aquela disse...

vento na janela do seu quarto

relendo mais e mais.

merci. (agora em francês pra não chatear)

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