quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

E naquele instante tudo ficou breve. Respirou profundamente, deixou o ar entrar e sair bem devargazinho como se prendesse a vida ,a segurasse por muitos segundos durante um segundo. Tinha mania de controlar. A mãe perguntou se era mais fácil inspirar ou expirar, rapidamente ela respondeu expirar, depois se corrigiu – não...acho que é inspirar. Falou baixinho sentindo o ar que entrava, fresco e duradouro. O expirado tão mais curto, rápido, jogado fora. O que você tem dado a vida? Ouviu ou pensou, não sei. Passou.
A vontade de agarrar a vida como um passarinho fazia dela mesma presa fácil de tudo que estava ali presente pra ser vivido. Era difícil ser ela.
Olhou as folhas cheias de sombra do sol, bem ali de fora da janela aberta.E era isso que elas, as folhas, generosamente lhe falavam, do dia ensolarado, da brisa gelada daquela tarde com horário de verão , do céu azul sem nenhuma nuvem , da pulsação em ritmo de coração no eixo. Era a vida lhe prometendo uma sinfonia e exigindo de mansinho, cheia de sorrisos , mais atenção. E foi ali cara a cara com a vida ensolarada que se deparou com a pergunta - o que tinha pra dizer?
( )
Precisava parar de olhar a janela porque tinha que terminar de fazer alguma coisa que se propôs horas antes.
Doía não conseguir trocar palavras com as folhinhas verde e amarelas de Sol.
Prometeu que iria sorrir mais...e se permitir viver mais tudo que estava ali gritando,escancarado, crescendo. Anotou no caderno , com data grifada dando início a resolução. Dar stop naquela mania de ter mil coisas pra fazer, aproveitar mais o estar parada. Mas estava ali e naquele "pensa pensa pensa em tudo que tinha de ser feito". STOP.
Ligou o som para ouvir a música que a fazia sentir-se muito ela.
Acordeom e algum instrumento que faz som de bola de sabão estourando. E por dentro também estourava.
E essa brevidade da vida? tão clichê, tão já dito, mas de repente ela ali “tão novinha” como gostam de dizer, e sentia tudo indo embora. Ela pesada, ela trem percorrendo o trilho apressado . O que fazer com o futuro de ontem? É hoje.
Pensou na cachorrinha que estava ali dormindo e de como ela nunca parou pra pensar no dia que ela não estiver mais ali , que poderia ter levado ela mais vezes pra correr no sol e ver o labrador que late na esquina. Ei, mas péraí...ainda pode;
Pensou no tudo que ela deixa pra depois porque existem tantos amanhãs e vai dar tempo, vai. E lembrava que daria tempo mesmo.
Pensou no dia que os corações que estavam em volta dela parassem de bater. porque iriam uma hora descansar.
Pensou no quanto ela vive com a certeza do pra sempre .E foi assim com os grandes amores que ela deixou, com os que duraram um frisson , com os que foram embora de repente, triste porque ela sempre acreditava, e acredita que é pra vida inteira.
E se via ali, ela como vida inteira.
Pensou na dor que passou e na hora que doía porque ela não falava nada, desconsiderou .
Pensou nela com 15 anos apaixonada por um menino de verde e que hoje ela adoraria contar pra ele que a única vez que escreveu um diário foi todo pra ele.
Pensou que se hoje ela pensava assim de ontem , daqui uns anos o que ela não estaria pensando de hoje?
Pensou que tem tanta praia que ela não vai, tanta tarde a toa que ela se culpa porque ela pode ficar sem nada pra fazer.
Pediu desculpa pras folhinhas. Dava tempo de começar. Hoje de novo, pela primeira vez. Gritou sem fazer barulho.Óuviu dentro dela as bolas desabão estourando. 1 2 3 e já.
Assim a vida breve estendeu seu tapete vermelho e a recebeu.
O céu agora está azul e a menina sorri . Tudo o que passou sempre é. Ela é tanto; ela é tudo , ela é sempre. Pra sempre.
1, 2 , 3 e já.

Um comentário:

Dani Barbosa disse...

que bom que você tá aqui

me faz inspirar e expirar bem mais feliz

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